Olá Professor, vamos abordar o tema "Ensino por Competências", um modelo de ensino que alia conhecimento, habilidade, experiência e atitude. A incorporação de novos conceitos, porém, exige mudanças culturais e sociais.
Fiz uma síntese reportagens de duas revistas da área da educação que abordaram de maneira bem prática o tema.
Escolhi um vídeo, que mostra um professor tentando melhorar suas aulas, transformando o aluno em ativo. Esse vídeo é bem realista, mostra os alunos como realmente são.
Após a leitura do texto e a visualização do vídeo, vamos realizar algumas atividades.
Boa reflexão!
Professor André ministra aulas em duas Etecs de São Paulo e participa de uma formação continuada na escola estadual que também atua.
O veremos tentando modificar sua aula, não há nada de perfeição, ele muda de estratégia conforme a participação da turma, usa técnicas novas como "Questões que sugerem afirmações", "Crônica da aula", "Trio: Leitor, Sábio e Jornalista", mesmo sendo um professor de Matemática.
Esse vídeo retrata como as
mudanças acontecem inicialmente, as tentativas do professor, as atitudes dos
alunos, enfim a realidade mostrada deve servir para reflexão.
Vamos assistir:
Ensino por Competência
Os 8,2 milhões de brasileiros
que frequentam as 19.456 escolas e também os professores desses
jovens estão diante de um enorme contingente de informações, com a
responsabilidade de dar sentido a elas e construir um novo futuro. Tudo porque
o mundo vem mudando radicalmente nas últimas décadas. As relações
produtivas se transformaram e exige-se hoje uma mão de obra cada vez mais
qualificada, que saiba identificar o que é realmente relevante para o trabalho,
qualquer trabalho. Flexibilidade, articulação, autonomia de pensamento e ação, capacidade de integrar conhecimentos
vindos de várias áreas fazem parte de um conjunto de habilidades
supervalorizadas.
"Precisamos de
gente que pense, tome iniciativas, expresse pensamentos e ideias, saiba ouvir o
outro e trabalhar em grupo." Foi assim que um empresário resumiu, numa
recente reunião no Conselho Nacional de Educação, o que o departamento de
recursos humanos de sua companhia persegue. E a escola tem tudo a ver com isso.
Acabou-se o tempo em que só um ensinava e vários aprendiam, sempre a mesma
coisa do mesmo jeito. É hora de formar pessoas completas, jovens capazes de
viver a própria vida por inteiro. O desafio está colocado. Sai a "linha de
montagem" (ancorada nos livros didáticos), entra em cena uma rede de
relações (baseada no conceito de competências). Em vez de especialistas em
conteúdos, precisamos de pessoas compromissadas com a ideia de que todos
aprendemos sem parar. O que vale é saber como enfrentar os problemas e superá-los, em casa, no trabalho, no mundo.
Esses são os
alicerces da reforma do Ensino Médio, em vigor desde 1998. O principal deles é
o ensino por competências. "Uma competência é mais do que um
conhecimento", afirma Lino de Macedo, do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores da matriz do Exame Nacional do
Ensino Médio, o Enem. "Ela pode ser explicada como um saber que se traduz
na tomada de decisões, na capacidade de avaliar e julgar." Ao contrário do
que muita gente pode pensar, esse saber articulado ao fazer não é um modismo,
garante ele. "A evolução da tecnologia é definitiva e, infelizmente, mais
exclui do que inclui. Quem não sabe operar um computador, dificilmente consegue
emprego", exemplifica.
Como trabalhar por competências
O ensino por
competências é apenas a ponta mais visível de uma mudança radical de conceito.
Esqueça a história de que ir à escola é dever de toda criança e que lá ela vai
encontrar um professor pronto a lhe ensinar conteúdos pré-definidos. O que vale
agora é o direito que todo cidadão tem de aprender. E por aprender entenda-se
não só o currículo, mas a capacidade de construir a própria vida, relacionar-se
com a família, os amigos, os colegas de trabalho. A competência é o que o aluno
aprende. Não o que você ensina.
É por isso que os
projetos didáticos ganham força nesse cenário. Pense em qualquer tipo de
projeto: reciclagem, jornal escolar, criação coletiva de um livro, campanha de
saúde etc. Todos exigem trabalho coletivo, planejamento das etapas, pesquisa em
várias fontes, capacidade de síntese e diferentes técnicas de apresentação. Ou
seja, uma oportunidade para desenvolver diversas competências. "É a melhor
forma de desconstruir a cultura antiga, pois não dá para trabalhar assim só com
uma disciplina", analisa Carlos Jamil Cury, do Conselho Nacional de
Educação. Segundo ele, um bom jeito de começar a mudar é, no início, tocar um
projeto por semestre. Em seguida, dois. Mais tarde, três. "Sem pressa fica
mais fácil criar uma cultura."
O fórum De Escola
Para Escola, do Ministério da Educação, reúne experiências desse tipo. "Selecionamos
trabalhos que partem de situações reais, sempre envolvendo professores de
diferentes disciplinas", explica a diretora de Ensino Médio do ministério,
Maria Beatriz Gomes da Silva. Sofre mais para absorver o novo conceito quem
trabalha só com o livro didático, acredita Eny Maia, secretária municipal de
Educação de São Paulo e coordenadora dos PCN do Ensino Médio. Segundo ela,
"ele impede que o professor pare para refletir sobre os conceitos básicos
da disciplina e, consequentemente, sobre que competências precisa desenvolver
nos alunos".
São muitas as linguagens
Ler o mundo significa mais do que ser capaz de ler um texto. É
necessário aprender outras linguagens além da escrita. Gráficos, estatísticas,
desenhos geométricos, pinturas, desenhos e outras manifestações artísticas, as
ciências, as formas de expressão formais e coloquais tudo deve ser lido e tem códigos e
símbolos específicos de decifração. Quando um aluno está diante de um problema
matemático, precisa ser capaz de interpretar a pergunta para entender que tipo de resposta é esperada. Idem para quem busca
extrair conclusões de uma tabela de censo demográfico. Se o professor pede para
escrever cartas a destinatários diferentes, o estudante tem de escolher o
estilo e o vocabulário adequados a cada situação.
Essa
competência está associada a diversas atividades muito comuns na escola.
Atividades que envolvam a leitura de jornais permitem desenvolver na turma as
habilidades de ler estatísticas, separar a informação da opinião, usar as
informações contidas em tabelas para escrever um texto dissertativo...
No campo
das manifestações culturais, não é preciso ser artista para saber que o cinema,
a música e a dança exploram linguagens específicas. Compreendê-las é o primeiro
passo para estabelecer relações com o contexto histórico, identificar outras
obras com as quais estabelecem diálogo e a que tipo de tradição se filiam,
entre tantas inferências possíveis.
O
filósofo John Stuart Mill disse certa vez que "o grande problema da vida é
fazer inferências". É exatamente dessa capacidade de articular informações
para concluir um raciocínio ou deduzir um resultado que trata esta competência,
a do domínio das linguagens.
Compreender
fenômenos
A teoria
da seleção natural das espécies não nasceu do nada na cabeça do naturalista
Charles Darwin. Da mesma forma, não basta ler esse conceito num livro didático
para compreendê-lo. Só criando pontes entre aquilo que Darwin observou em suas
viagens, as pesquisas que realizou e o que se acreditava na época em que ele
vivia conseguimos alcançar suas idéias e perceber o abalo que elas provocaram.
O mesmo se dá na hora de resolver um problema matemático. É essencial usar conceitos
para entender as reais aplicações da Matemática no mundo não usar a realidade para fazer a
turma decorar os conceitos.
Nilson
José Machado, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, destaca
que o professor não pode perder de vista a ideia de que "a rede do
conhecimento está em constante estado de reconfiguração. Há sempre relações
novas, que estão surgindo, e outras que estão caindo de maduras". Para
ele, é importante que todo educador mostre, ao longo do programa curricular, como
sua disciplina evoluiu. No caso da Matemática, explorando temas que vão do
surgimento dos algarismos até as mais recentes aplicações. No caso de Ciências
Naturais, estabelecendo relações entre o conhecimento dos processos físicos,
químicos e biológicos em relação à linha do tempo. No caso de Ciências Humanas,
mostrando como as grandes transformações acontecem.
Hora de tomar decisões
A situação-problema surge quando o professor cria um desafio cuja
superação faz com que o aluno aprenda alguma coisa. É uma maneira de inverter o
tradicional sistema de "transmissão de conhecimento". Em vez de
oferecer a resposta certa, o caminho é fazer a pergunta certa e, com base em
algumas coordenadas que ajudem a situar a questão, incentivar a garotada a
encontrar essa resposta certa. Uma situação-problema típica é o trabalho por
projetos didáticos, quando o grupo é desafiado a empreender algo. Os estudantes
partem de algumas informações, definem um objetivo e traçam um caminho para
alcançá-lo. "Muitos de nós, na escola e fora dela, ficamos rapidamente
desinteressados quando recebemos apenas boas respostas", afirma Lino de
Macedo, do Instituto de Psicologia da USP. "Mas não conheço ninguém que
não se sinta motivado diante de um problema."
Ao coletar informações em diferentes bancos de dados, como a
internet, fontes orais e livros e jornais da própria biblioteca da escola,
extraindo de cada uma o que interessa para a execução do projeto, o aluno
desenvolve operações mentais de altíssimo valor para a tomada de decisões. Por
isso, vale a ressalva. "Existe o risco de ele se perder diante de tantas
fontes de informação", destaca Nilson Machado, da Faculdade de Educação da
USP. "É essencial que se tenha um mapa de relevâncias capaz de estabelecer
o que é importante para aquele determinado objetivo. Nada é relevante ou
irrelevante por si, mas sempre em relação a um contexto." Fazem parte do
conjunto de habilidades ligadas a essa competência as ações de identificar,
caracterizar, relacionar, confrontar, calcular, prever, analisar, organizar e
contextualizar diferentes informações, extraindo dessas operações a resposta
certa ou um produto final, no caso dos projetos didáticos.
Construir argumentos
Não basta ter as informações certas. É preciso construir
argumentos válidos e agir. Isso vale para a vida, no mundo do trabalho e,
claro, na sala de aula. Quando o professor cria um júri simulado para que os
alunos debatam algum tema, faz com que todos exercitem essa competência,
essencial para o exercício da cidadania. Afinal, só reclama seus direitos quem
sabe argumentar a seu favor.
Trabalhos em grupo exigem dos estudantes intensa capacidade
argumentativa e exercitam valores como tolerância e respeito às diferenças. Tão
importante quanto saber argumentar é ter a capacidade de ouvir. Apresentar duas
ideias opostas sobre um tema e pedir um texto que leve ambos em consideração é
mais um ótimo jeito de construir esta competência que, ao contrário do que supõe uma leitura apressada, não diz respeito
apenas à linguagem oral.
Pegue-se como exemplo a questão da violência. Ao escrever, o aluno
pode dispor de diferentes tipos de dados para formar sua opinião: estatísticas
gerais, levantamentos específicos segundo a classe social, a geografia e a
idade dos agressores ou um balanço histórico sobre a questão.
Construir argumentação consistente partindo das informações
disponíveis é o cerne desta competência, que está diretamente ligada à ideia da
contextualização do ensino defendida pela Lei de Diretrizes e Bases. A
legislação não dissocia a preparação para o trabalho da formação geral do
educando. Daí a ênfase na necessidade de a escola dar sentido ao que ensina,
estabelecendo ligações entre o conhecimento teórico e a prática cotidiana.
O texto da reforma do Ensino Médio defende um "contexto
norteador do currículo, já que todos, independentemente de origem ou destino
socioprofissional, devem ser educados na perspectiva do trabalho". É uma
postura integradora, que reconhece e absorve saberes de fora dos muros
escolares para formar cidadãos críticos uma
situação radicalmente diferente daquela velha cultura enciclopédica voltada
para o acúmulo de informações. Nesse novo desenho, o que não é contextualizado dificilmente vira conhecimento. Como diz o escritor
Rubem Alves, "a memória mora na ação". Ou seja, o que não é usado cai
no merecido esquecimento.
Um aspecto da realidade da escola diretamente relacionado a esta
competência são os grêmios estudantis. Tidos por muitos educadores como o
melhor jeito de manter um foro permanente de debates e troca de ideias, eles
servem para colocar à prova a capacidade argumentativa da garotada. A começar
pela própria campanha pelo comando da instituição. Só terá chances a chapa que
criar propostas e defender pontos de vista consistentes e convencer os colegas a votar.
Intervir na realidade
"A própria essência de uma cultura geral não será preparar os
jovens para entender e transformar o mundo em que vivem?", pergunta
Philippe Perrenoud, um dos nomes mais constantemente associados ao ensino por
competências. Na quinta competência exigida pelo Enem reside o verdadeiro
exercício da cidadania. Ela funciona como o vetor voltado para a sociedade de
tudo o que foi aprendido e exercitado nos três anos do Ensino Médio.
Se a escola ignora o pressuposto defendido pelo educador suíço,
hiperdimensionando os projetos pessoais, segue o perigoso caminho do culto ao
individualismo. O melhor antídoto é despertar o sentimento de solidariedade por
meio de ações concretas de intervenção na realidade. "Felizmente, essa
competência vem sendo trabalhada de maneira sistemática em todo o país",
afirma Eny Maia, secretária municipal de Educação de São Paulo. "É comum
ver projetos que envolvem a adoção de uma praça ou rio ou o mapeamento do
entorno escolar como forma de conhecer a realidade para depois propor
intervenções."
Buscar soluções para questões de saúde ou urbanismo, visitar
orfanatos, asilos e presídios e participar em festas comunitárias são outros
exemplos bem-sucedidos de momentos de aprendizagem que se cruzam com o
exercício da cidadania. Mas atenção. Não basta agir. É essencial tomar
consciência do papel que cada um pode e deve ter na transformação do mundo. Ou
seja, para que esta competência faça sentido, é preciso antes dominar as outras
quatro. A soma faz com que o estudante se torne preparado para agir. E saia da
escola dizendo que ela conseguiu, sim, prepará-lo para a vida.
Ponderação
A professora Alice
Casimiro Lopes, procientista e professora adjunta da Faculdade de Educação da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pondera os benefícios desse
formato de currículo. “O modelo por competências é bastante restrito do ponto
de vista curricular, pois a sua lógica de organização é calculada na formação
para o saber fazer. Com isso, várias dimensões da cultura, que não se expressam
no saber fazer, são desconsideradas.” Ela explica que isso não significa ser
contra toda e qualquer formação de competências, mas questiona a organização de
todo currículo ou avaliação por habilidades e competências. “Uma coisa é formarmos
competências nos alunos como uma das dimensões de formação, outra coisa é
organizar todo currículo e toda avaliação por bases desta lógica, ou conferindo
destaque a ela”, analisa.
Para a procientista, a
concepção de currículo envolve basicamente três dimensões inter-relacionadas: currículo
escrito formal, que corresponde as orientações legais, lista de conteúdos e de
disciplinas; currículo em ação, que é aquilo que acontece na prática da sala de
aula; e as teorias curriculares. “Mas o currículo não está pronto. Ele vai se modificando
em cada uma das instituições em função da relação que se dá em contextos e
práticas nas escolas”, observa Alice.
Para o professor Júlio
Furtado, doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Havana, os
educadores ainda têm dificuldades de deixar de lado a postura de quem sabe a
verdade e assumir uma postura de quem quer ajudar a aprender. “Nós professores
ainda estamos muito presos ao papel do ‘professar a verdade’. O professor que
desenvolve competências é um instigador, lançador de desafios e mediador para
que os alunos não desistam dos desafios.”
Algumas atitudes
prejudicam o desenvolvimento de competências, como encarar o conteúdo pelo
conteúdo, sem a associação ou o entendimento das competências relacionadas,
além da pressa e a fixação de cumpri-lo, assim como a valorização desnecessária
da memorização. “Apresentar o conteúdo de forma mais sistematizada é um dos vícios
que a escola terá que perder”, diz o doutor. Também se observa um olhar
equivocado sobre o erro, como se o aluno não pudesse errar. “Escola é lugar de
errar, e só desenvolvemos competência na medida em que não temos medo de errar”,
comenta Furtado.
Referências:
http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/modalidades/especial-ensino-medio-425400.shtml
Revista Profissão Mestre - fevereiro de 2013 - Currículo por competências
Ponderando ao que afirma a professora Alice, penso que o ensino por competências, não se restringe apenas no "saber fazer", mas desenvolve as demais habilidades ao enfatizar as dimensões de "Aprender a aprender, aprender a ser e aprender a conviver. portanto não se restringe apenas ao saber fazer. Os conteúdos curriculares se expressam em " Conteúdos conceituais, factuais e atitudinais, acrescidos ao ensino experimental.
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